Setembro Amarelo: disponibilize, sim, seu inbox
É Setembro Amarelo. Chovem recomendações como “não disponibilize inbox; indique um psicólogo”, em meio às campanhas de conscientização sobre como abordar saúde mental e prevenção do suicídio com contatos próximos. Não raro, a orientação é somente indicar um profissional de saúde mental, isentando-se de qualquer contato.
De fato, a escuta terapêutica é profissional, indispensável e insubstituível (se comparada a outros tipos não-profissionais de escuta). Mas isso não quer dizer que você não possa oferecer um espaço de acolhimento para o outro. Ouvir. Apenas. E, aí, sim, indicar um profissional.
Portanto, contrariando as recomendações recém vistas nas redes: disponibilize, sim, seu inbox: com cautela para não se ferir, nem ferir o outro; sem dar conselhos além da indicação profissional, sem tecer comentários. Apenas ouvir. Acolher. Se for possível, se você mesmo estiver bem (não se arrisque muito caso esteja instável e não se sinta suficientemente pronto para receber a fala do outro), não abandone e deixe de ouvir apenas porque existe uma escuta profissional para isso. Afinal, a escuta terapêutica é insubstituível, sim, mas a escuta não-profissional também é.
Imagem: Reprodução/Internet. Autor desconhecido.
Amigo não substitui psicólogo. Psicólogo não substitui amigo. Cada um tem seu papel em uma vasta rede de acolhimento, apoio e escuta. Uma rede que abrange pessoas desconhecidas na rua que se sensibilizam com o seu sofrimento - quando reparam no seu semblante -, colegas de trabalho, colegas de turma, professores, e não somente amigos, nem somente profissionais de saúde mental. Não podemos resolver problemas agravados por redes sem recorrer às nossas redes.
Thayla Bicalho Bertolozzi é mestranda em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades e bacharela em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). Além disso, atualmente, é assistente de pesquisa no Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial (Afro/CEBRAP).
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